“ Exige muito de ti e espera pouco dos outros. Assim, evitarás muitos aborrecimentos.” — Confúcio Aconteceu, embora muitos se recusem a acreditar, numa das esquinas mais movimentadas da principal avenida da cidade. O tráfego de pessoas era intenso naquela manhã; se eventualmente ocorria um congestionamento, alguns, mais jovens e rápidos, rompiam céleres e impacientes entre os corredores de gente. Aconteceu, meu senhor, e bobo é quem duvida. Eis que um sujeito parou à beira da calçada, esperando a oportunidade para atravessar a rua. Simples, não é? Fato corriqueiro, banal e até vulgar. Acontece que aquele sinal é demorado a beça, todo mundo sabe disso. E quando fecha, o outro abre; daí vem carro da outra via também. Para chegar ao outro lado, quase é necessário pular na pista num raro intervalo do trânsito dos carros. Dá para entender um negócio desses? “É agora ou nunca”, pensou o jovem desconhecido, observando os veículos atenciosamente. Ia ou não ia? Não tinha cer...
“ Vi de longe o meu amigo Ele me reconheceu Nos aproximamos alegremente E cada um arrefeceu Eu vi que não era ele Ele viu que não era eu.” Millôr Fernandes Esses dias, precisei ir (contrariado) ao Rio de Janeiro. Uma palestra sobre um novo sistema que seria implantado na repartição. “Você vai num pé e volta no outro, Pachecão, coisa rápida”, disseram. E o pior é que eu acreditei. Ir ao Rio nunca é rápido, crédulo terráqueo, nunca foi. Entretanto, minha vontade de chegar em casa era tão grande, tão grande, que foi motor da exagerada idealização de um cenário ideal e quase utópico. É assim que nós somos, meu senhor: especialistas em criar expectativas, em imaginar panoramas perfeitos, fantasiar finais felizes. Ah, eu devia ter desconfiado… Quando desembarquei de volta à Gotham City, já era demasiado tarde e não havia tempo suficiente para chegar em casa e preparar o almoço. Suspirei, frustrado. O melhor era pegar o picado ali pelo centro mesmo. Pedi um prato ex...