Era uma vidinha monótona, sem perspectivas: um medíocre emprego numa grande empresa, as conversas inconsequentes com os amigos, o trânsito congestionado. Mas aí ele voltava para casa e podia, enfim, viver uma aventura. Na Internet, claro. Navegador infatigável, percorrera um território humano desconhecido e às vezes inquietante, até encontrá-la, primeiro em uma sala de bate-papo, depois em mensagens privadas. Conhecia-a apenas por Solly (Solitária?) e pouco sabia de sua vida. Mas eram, sim, almas-irmãs. Partilhavam os mesmos gostos, as mesmas inquietudes, as mesmas secretas aspirações. E ficavam horas trocando mensagens. Quem não gostava, naturalmente, era a mulher. Estavam casados havia oito anos, não tinham filhos. Ela também trabalhava, claro -como sustentar uma casa, e a Internet, com um emprego só?- e também tinha o seu quinhão de amargura. Que despejava no marido: você fica aí nessa Internet e não dá bola pra mim, não tenho com quem falar. Por isso, quando ela chegava do emprego,...
Fundado em mil novecentos e guaraná com rolha, num universo alternativo.